7 de junho de 2014

Estranho-te.

Eu vejo-te e reconheço-te, sei de onde, sei onde te conheci e em que circunstância esse facto mal acabado aconteceu. Vejo-te sem te beijar, mas não te conheço. Já não sei identificar uma atitude tua e muito menos compreende-la. Já não sei ler os teus olhos nem olhar dentro deles a fim de compreender a tua alma. Vejo-te como uma pessoa normal, embora ainda te consiga diferenciar, foram alguns anos ao teu lado, e muitos anos são ainda muito mais dias e outras tantas noites. Dias esses em que partilhava outras tantas horas ao teu lado, nos teus sucessos e fracassos, lembras-te quando saímos sem rumo durante tantos minutos só para aproveitar o tempo sem que desse-mos conta dele passar? Eu lembro-me e ainda me lembro de ti. Noites dessas em que me deitava no teu peito só para não estar com a cabeça diretamente no chão e onde víamos as constelações, lembras-te? Na minha cabeça, não havia urso maior que tu, mas mesmo assim eu ficava e ficava tantos ou mais segundos ao teu lado só para não te sentires sozinho. Não sei se era apego, paixão ou amor. Mas de tudo aquilo que eu gostava, tu eras aquilo que mais me fascinava. Não precisavas falar, aliás, nunca precisas-te. Eu sempre soube quando a tua vontade de me ter por perto era grande assim como sempre soube de quando preferias que te desse o teu espaço... e eu dava. Eu estava sempre à tua disposição mesmo que abusasses dela. Tantas desculpas aceitei vindas de ti quando me dizias que não me podias ver, mas mesmo assim eu ficava e fiquei, até não me quereres mais, e não quiseste! E eu aceitei, como quem aceita a solidão. Mas amanhã, ou daqui a poucos segundos, ou daqui a certos minutos ou até algumas horas ou até mesmo daqui a alguns dias que de tantos que sejam se transformem em anos, quando estiveres sozinho, não me procures, nesse momento eu já tenho outras pessoas, outras conversas, outras vontades que não sejam os teus apetites, daqui a esses segundos, minutos, dias ou de tanto tempo que seja se transformem em anos, a única coisa que possivelmente irei fazer-te é lembrar-te do dia em que eu aceitei a solidão e relembrar-te as tuas escolhas. Daqui a esse tempo todo, se sentires saudades do que deixaste para trás, nem ouses dizer que sentes a minha falta, porque no fundo a única coisa que gostavas era que eu te fizesse companhia, que não te deixasse cair e que te amparasse. E nesse dia, posso também ensinar-te como aceitar a solidão e aí não me estranhes tu e por favor reconhece-me também... reconhece. Reconhece que foste tu que me forçaste a ensinar-te o que era a solidão e espero que aprendas, tal como eu aprendi.